domingo, 20 de abril de 2008

"Os Vizinhos"

Somos vizinhos devido à nossa condição, seja em Sesimbra ou Ranholas. A proximidade não nos trouxe companhia, nem tão pouco nos conhecemos, não falamos uns com os outros e mesmo que haja laços de familiaridade, o silêncio instalou-se. Pelo menos entre nós. Algumas vezes somos visitados, por aqueles que perpetuam a nossa memória e com os quais continuamos a viver. A nossa presença nestes locais, não passa de uma sombra efémera, enquanto dura a existência da concha vazia. Alguns de nós passam à condição de esquecidos e outros à de imortalizados. Aqui, como na sociedade, somos diferentes. Uns, têm direito a uma morada térrea (na maior parte dos casos não é definitiva), mais ou menos elegante, de acordo com o seu desejo ou às posses familiares e, outros, a residências aristocráticas, acima do solo, como se estivessem a fugir da destrutiva condição de sepultados. Existimos porque povoamos as emoções daqueles que nos acolheram. Dos que têm saudades, ou daqueles que crêem numa vida posterior. Os vivos que aqui entram, não nos encontram, são eles que nos trazem.
Jorge AC Figueiredo

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