Pedro Leitão
Ana Nunes
artist
statment
A forma como interpretamos e interagimos com o que nos
rodeia, através do que nos é passado e do que
tomamos como certo através da experiência adquirida,
projecta o que realmente somos.
O posicionamento cronológico, mostra algo que é
imutável e igual para todos, dependendo desse posicionamento
há sempre duas verdades, que anulam a individualidade
e a transformam numa simples definição.
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Como viveram muito e foram muitas vezes enganados pelos
outros e por si pensam que nada sabem, duvidam,
dizem sempre talvez. Têm mau humor, pois vêem as
coisas do pior prisma; são desconfiados por incredulidade
e incrédulos por experiência. Amam pouco e não sentem ódio
por nada; cumprem o preceito de Bias; amando como se viessem
a odiar e odiando como se viessem a amar. São pusilânimes,
por terem sido humilhados pela vida; não desejam nada de
grande; desejam, sim, o que é útil. Não são generosos,
pois a propriedade é necessária e eles sabem que difícil
adquirir e fácil perder. Receosos, assustam-se com tudo;
porque têm tendências opostas às dos jovens, são frios
quando aqueles são ardentes; assim a idade abre-se-lhes
ao receio, que é afinal, falta de entusiasmo. Amam a vida
e sobretudo o último dia, porque se deseja sempre o que se
não tem. Demasiado egoístas, o que é também pusilanimidade,
vivem mais para o interesse que para o belo; com efeito,
interesse é o que é bom para si próprio e o belo é
simplesmente bom. Não se envergonham de nada que façam, pois
não crêem que o belo tenha o valor do útil, e desprezam
completamente as aparências. Têm pouca esperança, pois têm
experiência: com efeito, a maioria dos acontecimentos são
aborrecidos. Têm medo, vivem mais da lembrança que da
esperança, pois o tempo que lhes resta para viver é breve e o
passado é longo; por isso contam vezes sem fim o que lhes
aconteceu na vida, repetindo as coisas. As suas cóleras são
grandes mas sem força, porque as suas paixões são agora
fracas; não é a paixão que os move mas o interesse. E parecem
assim moderados, com as paixões dominadas pelo interesse.
Guiam-se mais pelo raciocínio que pelo sentimento, porque o
pensamento relaciona-se com o que é útil e o sentimento com
as virtudes. Se por ventura são injustos, são-no
intencionalmente. As pessoas de idade sentem por vezes piedade,
mas não pelas mesmas razoes que os jovens; estes sentem-na por
amor aos homens; aqueles por fraqueza; pensam que esse mal os
vai tocar também e têm pena então. Também são queixosos e sem
alegria: lamurias e contentamentos opõem-se.
É assim o carácter dos velhos.
"Teofrasto – a retórica sobre os velhos"
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